terça-feira, 30 de junho de 2009

Você sabe o que é feito com o lixo hospitalar de Teresina?

Denise Cordeiro

Teresina é considerada um pólo de saúde para as regiões Norte e Nordeste do país. Maranhão, Ceará, Bahia, Pernambuco e Pará são os Estados que enviam mais pacientes para a capital piauiense para tratamento médico. Com tanta gente para atender, o lixo hospitalar da cidade cresce e as preocupações de como ele é armazenado, coletado e descartado no meio ambiente também.

Seringas, bolsas de sangue usadas, frascos de soro fisiológico, membros amputados em cirurgias. Tudo isso pode conter centenas das mais variadas bactérias e vírus nocivos aos seres humanos e o tratamento despendido a esse tipo de lixo deve ser especialmente observado.


Hospitais e prefeitura nem sempre se entendem quanto à questão de armazenamento e coleta, mas uma coisa é certa: Teresina ainda não possui local adequado para o despejo do lixo hospitalar produzido na cidade.

Apesar de a prefeitura informar que está sendo construído um aterro sanitário especializado para receber o que é descartado pelos hospitais, há muitos anos toda a coleta tem sido lançada em um aterro sanitário que não é o mais apropriado para a situação e a própria prefeitura admite. “Na verdade o que nós temos é um aterro controlado, e não um aterro sanitário, mas este já está sendo providenciado”, diz Marcílio Bona, engenheiro da prefeitura encarregado do aterro sanitário.

A questão da impermeabilização de solo e tratamento do chorume (dentro do lixo vai um líquido chamado chorume, que vem dos resíduos. O líquido vai para uma lagoa, onde passa por uma decantação e vai para uma segunda lagoa, onde é oxigenado para seguir para a estação de tratamento e só depois se encaminhado para os rios) é muito importante. “Por enquanto, nós não estamos fazendo isso. Esse chorume está sumindo através de evaporação e infiltração”, fala Bona.

Segundo ele, as obras do novo aterro precisaram ser paralisadas por causa das chuvas, o que atrasou sua finalização que ainda não tem prazo para conclusão. Por conta disso, a prefeitura tem trabalhado apenas com duas das oito células que serão construídas para o despejo do lixo hospitalar da capital.

Apesar do esforço atual da prefeitura, a existência de um lugar para se despejar esse lixo, por si só, não é suficiente para livrar o meio ambiente de possíveis contaminações. Os hospitais também precisam fazer a sua parte e é aí que mais problemas começam a aparecer.

Conversando com os três maiores hospitais públicos da cidade: Hospital Getúlio Vargas (HGV), Maternidade Dona Evangelina Rosa (MDER) - estaduais - e Hospital de Urgências de Teresina (HUT) - municipal - dizem que cumprem sua parte separando o lixo hospitalar ou biológico do lixo orgânico ou domiciliar, mas, o relatório feito pela prefeitura que discrimina quais instituições de saúde fazem a separação desse lixo nega que o HGV e a MDER façam a separação adequada.

É bem verdade que ambos possuem um abrigo para armazenar os resíduos separadamente até que o caminhão de coleta recolha-os, entretanto, apesar de seguirem as resoluções 358 do CONAMA (Conselho Nacional do meio Ambiente) e 306 da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) - que falam sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências -, todo o descartado pelas instituições fica no mesmo local, e apesar de ser guardado em sacos de cores diferentes, a prefeitura diz que não pode tratar os orgânicos separadamente, pois julga que não sejam discriminados como se deveria e o trata como se fosse todo hospitalar.

“Nós estamos tendo dificuldade porque os hospitais não tem separado o lixo orgânico do hospitalar. E, por considerarmos que ambos vem misturados dos hospitais, o aterro acaba sendo prejudicado, porque quanto mais lixo junto, pior para o solo. Além disso, a empresa também é prejudicada por recolher mais lixo do que nós (a prefeitura) a pagamos para coletar”, comenta Bona, explicando que a gestão municipal para o recolhimento de 80 toneladas de lixo hospitalar, mas a Quálix coleta em média 200 toneladas por dia.

De acordo com o engenheiro, apenas quatro estabelecimentos de saúde da capital fazem a segregação do lixo: Hospital São Paulo, Hospital Casa Mater, HUT e Hospital São Marcos.

Contudo, o HGV e a MDER rebatem as afirmações do órgão municipal. “Desde 2004, quando foi inaugurada a Central de Resíduos com a proposta de atender não só ao HGV como ao Ambulatório, o HEMOPI e o Hospital Infantil, nós temos trabalhado a segregação do lixo entre os grupos A (potencialmente infectantes), B (químico), D (comuns) e E (pérforo-cortantes), além do lixo reciclável. Todos são devidamente armazenados em sacos de cores diferentes. Apenas o grupo C (radioativos) não é tratado porque nós não trabalhamos com ele aqui no hospital”, disse a coordenadora da Central de Resíduos do HGV, enfermeira Odinéia Leite.

Ela ainda acrescenta que os grupos A, B e E passam por um autoclave - aparelho utilizado para esterilizar artigos através do calor úmido sob pressão - e, posteriormente, são levados para o aterro sanitário com um carro próprio do hospital, já que a prefeitura não envia um veículo adequado para a coleta desse material, ou seja, um coletor que não faça a compactação do lixo recolhido.

Perguntada por que a prefeitura considera que eles não separam o lixo, Odinéia fala que talvez falte comunicação entre o hospital e a administração municipal “O caminhão só passa aqui no hospital uma vez por dia. Eles precisariam mandar dois carros diferentes para buscar lixos diferentes em horários distintos. Acho que falta comunicação em relação a isso”.

Para confirmar a fala da enfermeira, a gerente do serviço de higiene e transportes do HUT, Silvete Dourado, conta que é exatamente como Odinéia sugere que acontece no estabelecimento. “O caminhão passa aqui duas vezes por dia (uma de manhã e outra à tardinha) para recolher os lixos domiciliar e biológico, é preciso que seja assim, já que são resíduos que precisam de tratamento diferenciado”, conta.

Sobre esse fato, Marcílio Bona informou que já planeja entrar em contato com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semam) para trabalharem esse entendimento entre o órgão e as instituições de saúde.

Mas até que tudo seja devidamente estruturado para evitar danos ao meio ambiente, os erros continuam e a degradação ainda não é controlada como a sociedade gostaria que fosse.

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