terça-feira, 23 de junho de 2009

Sustentabilidade: quais as vantagens em inserir sua empresa no contexto ambiental?

Denise Cordeiro

A cada dia, mais e mais empresas começam a investir em sustentabilidade social com projetos voltados para a preservação do meio ambiente. Em entrevista, a professora do curso de Economia da UFPI e professora do Programa de Pós-graduação em Meio Ambiente da instituição, Jaíra Gomes, explica porque é vantajoso para um empreendedor trabalhar a questão ambiental.


Sociedade e empresas

Muitas grandes empresas, de diversos ramos de vendas e serviços, já começaram a desenvolver projetos ambientais - como vender sacolas retornáveis - e junto a isso, desenvolver ações no sentido de receber retorno do seus clientes. Quais são as vantagens para uma empresa em trabalhar com projetos ambientais?

A empresa faz parte da sociedade, e hoje, como você tem toda uma mudança nessa problemática ambiental, então não se pode mais apenas priorizar a área econômica de uma companhia. Em uma sociedade sustentável, a empresa precisa se desenvolver de uma forma sustentável. Isso significa trabalha várias dimensões dessa sustentabilidade, e com isso, a empresa que está vinculada ao lado produtivo e à sociedade, precisa se adequar à essa nova sociedade.

Como você acredita que esta adequação vem sendo feita?

Atualmente, as empresas já começaram a modificar seus processos de produção. Por exemplo: se uma empresa era altamente poluidora, não colocava nenhum tipo de filtro de ar, então ela começa a procurar adequar sua produção a esse contexto.


Legislação

A legislação brasileira tem influenciado na mudança de comportamento das empresas? Como?

Os países constituíram a legislação para que você tenha ações efetivas como multa, taxas, etc, para ordenar empresas que estejam impactando o ambiente de forma negativa. Portanto, as empresas tem esse aspecto de se adequar às leis federais, estaduais e municipais. Além disso, ainda tem o outro aspecto da diminuição dos lucros da empresa que não esteja de acordo com as legislação: se você paga multas por não estar de acordo com a lei, é uma verba perdida.

Apesar disso, não basta elas apenas incorporaram essa nova legislação, mas também essa nova visão da sociedade em relação ao meio ambiente, elas precisam ter uma modificação em termos sustentáveis.


Marketing

Percebemos que atualmente o ecologicamente correto se sobressai na sociedade. Há uma preocupação muito grande por parte da população em mostrar que faz sua parte consumindo produtos biodegradáveis. As empresas também podem levantar essa bandeira como uma iniciativa de marketing, não?

Certamente. Quando se muda em termos de sustentabilidade, a empresa tem uma série de vantagens, no sentido de que elas tem uma boa imagem, a questão do marketing da empresa, de como a sociedade a vê. Isso é muito importante.

Então hoje, inclusive, você vários institutos mundialmente e aqui no Brasil que premiam essas empresas de acordo com os projetos por elas organizados, e isso é mostrado à sociedade que passa a ver essa empresa com bons olhos, e essa mesma empresa se torna conhecida por sua responsabilidade social e ambiental.

Portanto, não se pode mais apenas se preocupar com o lucro, existem diversas áreas para onde ela deva se voltar, porque o modo como a sociedade vê essa empresa, a lucratividade dela vai melhorar ‘Ah, eu vou comprar produto da empresa X porque ela trabalha em prol do meio ambiente’.

As pessoas vão comprar de uma empresa ecologicamente correta.


Incentivos

A mudança de postura de certas empresas em adotar maiores cuidados com o meio ambiente também pode ser atribuída a benefícios financeiros por parte do Estado?

Existem os incentivos fiscais dados pelos governos como concessão de ICMS e/ou isenção de outros tributos, além de dar infra-estrutura para empresas que vão trabalhar projetos de desenvolvimento sustentável. Os ganhos hoje para aquelas que trabalham dessa forma são variados. Ela também ganha competitividade e pode ter ampliação de seus produtos, ampliação de mercado, à medida que os consumidores passam a enxergá-la como uma empresa que se preocupa com o meio ambiente.

Hoje as empresas tem em seus organogramas, um setor voltado para meio ambiente, onde vai se trabalhar essa questão. Elas tem investido em tecnologias e procurado inovar dentre dessa ótica, baseada em tecnologias que diminuem água, energia, e reutilizam produtos que seriam descartados. Elas procuram retirar o mínimo possível desse meio ambiente como também procuram devolver o mínimo possível que possa degradar esse ambiente.


Âmbito Social

Como você acredita que se deu essa mudança? Foi a sociedade que exigiu mudanças nas empresas, ou foram as empresas que fizeram a sociedade mudar sua visão “ambiental”?


Nem um, nem outro. A empresa faz parte da sociedade, e se a sociedade muda ela tem de mudar com ela. A sustentabilidade é uma atividade rentável. Se não fosse, tantas empresas não investiriam nisso. Além de ganhos financeiros, elas podem ter ganhos de marketing e incentivos. Investir na área ambiental é um processo com retorno garantido.


As empresas e suas experiências

Empresas como os Grupos Claudino e Carvalho são exemplos de rentabilidade. Para a rede de supermercados Carvalho o ano de 2008 foi de importantes mudanças no quesito gestão ambiental. Com o intuito de diminuir os danos causados ao meio ambiente através do lixo, o Grupo Carvalho dedicou atenção especial à coleta seletiva.

O processo de coleta e seleção do lixo, feito por empresas terceirizadas que recolhem e promovem a reciclagem do material, separando o lixo orgânico, latas, papéis, metais e vidros, evitou o desperdício de toneladas de materiais que puderam ser reaproveitados.

Dessa forma, além de livrar o meio ambiente desses resíduos, a iniciativa promoveu a geração de emprego e renda para centenas de pessoas e, consequentemente, uma visibilidade maior em termos de marketing para a empresa.

Em relação aos consumos de água e de energia elétrica, foram desenvolvidas metas de redução e a conscientização dos funcionários para o uso racional desses recursos, além da utilização de telhas transparentes, fonte limpa de energia – que aproveita a luz solar – nas filiais recentemente construídas, o que gerou lucros financeiros à empresa.

Ainda visando à minimização dos efeitos nocivos do plástico ao meio ambiente, o Carvalho passou a oferecer aos seus clientes as bolsas “biobags”, feitas em algodão, que substituem as sacolas plásticas nas compras de menor volume.

Já o Grupo Claudino não ficou de fora da “onda ambiental”. Restos de materiais utilizados para a produção de colchões, estofados, que deveriam ser jogador fora são reaproveitados, parte refazendo a matéria-prima e parte vendidos para empresa recicladoras desse material, o que influencia na área financeira da empresa.

Desenvolvido em 2002/2003, com o projeto “Sinal verde para a natureza” a empresa cresceu muito. Quando as fábricas foram ampliadas, desmatamentos ocorreram na área para dar espaço aos novos empreendimentos. Para compensar as perdas de vegetação no local, foi feito um programa de educação ambiental com os funcionários e os filhos dos funcionários, onde todos plantariam uma árvore nos terrenos da empresa.

Nessa época, também se iniciaram os projetos de coleta seletiva: todo plástico, papelão e boa parte da sucata que ia para o aterro, nós começou a ser vendido para empresas especializadas em reciclagem.

“Nós investimos em coletores, palestras educativas para os funcionários, mas tivemos um grande retorno. Só no ano passado, cerca de 130 toneladas de resíduos não foram enviados para o aterro”, disse Fabrício Sá, supervisor ambiental da Socimol, empresa do Grupo Claudino.

“A gente tem que transformar o que seria desperdício em oportunidade. Se a gente economiza energia, então é bom pra gente e é bom pro meio ambiente”, concluiu.


Educação Ambiental

O Sebrae também trabalha com seus micro e pequenos empreendedores essa visão ambiental. Segundo a assessoria de comunicação do órgão, vários projetos sustentáveis são repassados aos empresários e diversos trabalhos existem na área, no entanto, os responsáveis por estes projetos não puderam conceder entrevista à reportagem, pois não se encontram em Teresina.

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