sábado, 20 de junho de 2009

Plano Nacional de Agroenergia pode transformar Piauí em grande produtor de dendê

Sanmya Meneses
Fotos: Embrapa

O Plano Nacional de Agroenergia é uma iniciativa do Governo Federal e objetiva, a partir da análise da realidade da matriz energética mundial, organizar uma proposta de pesquisa, desenvolvimento e de transferência de tecnologia no Brasil. Tendo como pilar a sustentabilidade, o plano abrange estudos que visam aperfeiçoar a integração entre agricultura e alternativas de geração de energia.

No Piauí, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária da região Meio Norte (Embrapa- Meio Norte) possui uma plataforma específica para essa atividade onde é desenvolvido um trabalho que visa ampliar os agentes das cadeias de agroenergia, em conformidade com as políticas públicas das áreas energética, ambiental, agropecuária e de abastecimento de cada região. Em entrevista, o pesquisador Eugênio Emérito fala da Plataforma de Agroenergia da Embrapa e de novidades sobre os investimentos na produção de óleo a partir do dendê no estado do Piauí.

Em que consiste a agroenergia e quais são as vantagens desse tipo de produção enérgica?

É possível definir Agroenergia como toda a energia produzida a partir de produtos agropecuários e florestais, ou seja, é a energia oriunda da natureza. O que se busca de fato é a diminuição da dependência do petróleo como matriz energética e reduzir dessa forma, a emissão de gases poluentes que é a grande conseqüência da utilização do petróleo como fonte de energia. A agroenergia se apresenta como uma alternativa rentável e, sobretudo, sustentável.

De que forma é trabalhada a plataforma de energia que é desenvolvida na Embrapa Meio Norte?

Nós trabalhamos com quatro grandes projetos. O primeiro deles é voltado para o biodiesel, de forma que os estudos são direcionados para ampliar tecnologias de culturas que tenham o potencial para a produção de óleo, como por exemplo: a soja, o girassol, a mamona e o dendê. O segundo é voltado para a produção do etanol e a implementação da cultura de cana-de-açúcar (matéria prima do etanol) em áreas que não possuem a tecnologia. Nossas áreas de abrangência são nesse caso o Piauí, o Maranhão e algumas regiões do Tocantins.

No terceiro projeto contemplamos as florestas energéticas e nosso trabalho consiste em estudar a melhor forma de gerar energia a partir de espécies florestais como a lenha e o carvão. E por fim, temos um projeto voltado para fontes alternativas de biodiesel, explorando espécies que não são tão comumente utilizadas para a produção de energia. O que diferencia esse projeto do primeiro citado, é exatamente a exploração de matérias-primas que não são frequentemente usadas e que geralmente possuem uma baixa produtividade de óleo. Nessa categoria incluímos o pinhão manso a macaúba, a carnaúba, dentre outras palmeiras.

Recentemente o governo da Indonésia esteve no Piauí para avaliar o potencial do estado para a implantação de novas áreas para o cultivo de dendê para a fabricação de óleo. O que justifica esse interesse no produto brasileiro?

A Indonésia se configura como a maior exportadora mundial do produto, com uma produção em torno 16 milhões de toneladas por ano. Por se localizar entre arquipélagos o país possui limitações de áreas para o cultivo e, consequentemente, precisava encontrar uma alternativa para manter o mercado e a demanda mundial. A opção foi o Brasil pela proximidade com os Estados Unidos e também pela disponibilidade de terras relativamente baratas. Assim, o governo da Indonésia conheceu a unidade de observação com dendê da Embrapa Meio Norte, que fica localizada em Teresina. Instalada desde 2005 numa área de meio hectare, ela é nossa primeira experiência de avaliação do produto nas condições da região meio norte.

Existe hoje uma forte demanda por resultados de pesquisas com o dendê sob irrigação no Nordeste principalmente em função de um distúrbio chamado ‘amarelecimento fatal’, que está inviabilizando o cultivo em regiões tradicionais de produção, como a Amazônia.

Houve dificuldade na adaptação do dendê à região Nordeste?

Para que a planta de dendê expresse todo seu potencial de produção são exigidas certas condições de clima associadas à práticas adequadas de manejo da cultura. Uma dessas condições é uma precipitação de aproximadamente 200 milímetros de chuva por mês, que no Brasil só acontece na região amazônica. Nesse sentido, nós temos que trabalhar sob irrigação para que a cultura possa se desenvolver de forma positiva. Outro aspecto importante é a insolação, uma vez que essa planta tem uma intensa atividade fotossintética, exigindo duas mil horas de luz, bem distribuídas ao longo do ano, que veio a se encaixar com o perfil do clima da nossa região.

Com relação a aspectos econômicos é possível afirmar que o dendê possa ocupar futuramente uma posição de maior destaque do que outras culturas que já são desenvolvidas há mais tempo na produção de biocombustível?

Sim. Existe uma diferença entre as culturas no que diz a produção e a transformação desse recurso natural em óleo. Nem sempre o cultivo de determinada espécie rende uma produção intensa de biocombustível; já que cada recurso natural possui suas características próprias com maior ou menor potencial energético. Uma comparação bem interessante é a da soja e do dendê: enquanto o dendê rende cerca de 4 a 10 toneladas de óleo por tonelada a soja gera apenas 600 kg de óleo.

É exatamente por esses aspectos que futuramente será muito mais rentável trabalhar com essas novas alternativas, que não se resumem apenas ao dendê. Algumas culturas selvagens que possuem grande potencial, como as palmeiras e o pinhão manso estão aos poucos trabalhadas para serem inseridas no mercado.

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